segunda-feira, 8 de novembro de 2010

APRESENTAÇÃO

É possível conciliar Ciência e ? Uma pessoa poderá estar voltada para a ciência e ser iluminada pela fé? Com a carta encíclica Fides et Ratio (Fé e Razão - FR), o saudoso Papa João Paulo II procurou responder a essas perguntas. Basicamente, afirmou que a Ciência e a Fé, longe de se opor, são duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus que colocou no homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecê-lo. Somente assim o ser humano chegará ao conhecimento de si mesmo.

João Paulo II constatou que algumas perguntas atravessam as fronteiras geográficas e o tempo: Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Por que existe o mal? O que é que existe depois desta vida? Das respostas que cada um der a essas perguntas dependerá a orientação de sua vida.

A Igreja tem uma convicção: o mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado, Jesus Cristo. Está convicta, também, de que o ser humano é aquele que caminha à procura da verdade. A verdade da Revelação, porém, não é o fruto de um pensamento elaborado pela razão. É um dom gratuito de Deus.

A Ciência (Razão) e a Fé não são concorrentes: uma supõe a outra e cada qual tem o seu espaço próprio de realização. Santo Tomás de Aquino lembra que “a luz da razão e a luz da fé provêm ambas de Deus... por isso, não podem contradizer entre si” (FR 43). Lemos no Livro dos Provérbios: “A glória de Deus é encobrir as coisas e a glória dos reis é investigá-las” (Pr 25,2). A fé constata: no mais fundo do coração do homem foi semeado o desejo e a saudade de Deus. “Em toda a criação visível, o homem é o único ser que é capaz não só de saber, mas também de saber que sabe, e por isso se interessa pela verdade real daquilo que vê” (FR 25)

Muitos se perguntam: A vida tem um sentido? Para onde se dirige? Os filósofos do absurdo dizem que ela não tem sentido. Duas verdades se impõem: existimos (o que fazer, pois, com a vida que temos?); morreremos (e o que virá depois?). Se o teólogo se recusasse a levar em conta os dados da Ciência, teria dificuldade de compreender a própria Fé. Se o cientista excluísse todo o contato com a Teologia, acabaria criando uma nova religião, pois precisaria procurar respostas para as perguntas fundamentais (Por que existo? Por que o mal? Por que a morte?).

De maneira didática, clara e objetiva, Paulo L. Medeiros Vieira, em Deus no Banco dos Réus, apresenta “Uma resposta da Ciência ao Ateísmo Militante”. O Autor nos leva pelos caminhos da História; nos faz “escutar” cientistas e teólogos, ateus e pessoas de fé; conduz nossa imaginação em direção do big bang e do cérebro quântico; nos traz para a realidade brasileira e nos obriga a refletir sobre o sentido da laicidade; nos apresenta a herança cristã, da qual somos devedores... e bem que poderia concluir suas pesquisas não com o oportuno pensamento de Thomas Merton (“Seja o fim da obra, não seja o fim da procura”), mas com a conclusão de Agostinho, que aparece em seu interior: “Fizeste-nos para ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti” (Confissões I,1, 1).

Deus no Banco dos Réus também poderia terminar com o pedido de João Paulo II: “A todos peço para se debruçarem profundamente sobre o homem, que Cristo salvou no mistério de seu amor, e sobre sua busca constante de verdade e de sentido” (FR 107). Afinal, só no horizonte da verdade o ser humano “poderá compreender, com toda a clareza, sua liberdade e seu chamamento ao amor e ao conhecimento de Deus como suprema realização de si mesmo” (id.).

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de Florianópolis

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